quinta-feira, 28 de abril de 2011

Petição Homenagem aos Retornados. Para a Assembleia da República



Homengem aos Retornados

Esta petição nasce da forte convicção de não se querer perder uma fatia da história contemporânea portuguesa e que tem um significado impar em muitos milhares de portugueses. Como forma de homenagear todos os retornados quero propôr esta petição para que não continue no esquecimento esta larga fatia da população portuguesa. Proponho que seja criado um dia nacional em homenagem aos retornados. O tratamento tem sido completamente diferente em relação aos emigrantes, pois em qualquer aldeia ou vila existe sempre uma monumento, rua, etc, etc em homenagem esta comunidade lusa. E os retornados? Por que são tão esquecidos? Que gente é esta...? Gente que trouxe muito a este país atrasado e completamente fechado ao mundo. Os retornados deram muito não só aos países onde nasceram, viveram e onde muitos morreram, como também ao seu pais de acolhimento - Portugal. Não deixe cair no esquecimento quem muito deu por este país.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

REQUIEM NOS CAIS DE LISBOA!

Foto de Alfredo da Cunha

Desde Belém ao Beato,
Descarregados de botes,
Empilham-se ao desbarato
Muitos milhares de caixotes.
Numa larga, extensa linha,
Ocupam lados e centro
Do cais; mas não se adivinha
O que contêm lá dentro.
— O que será? — perguntei
A dois ou três empregados.
Respondeu um: — P`lo que sei,
É tudo dos retornados.
Exclamei: - Senhor! Senhor!
(E comecei aos pinotes)
Tanta coisa de valor
Metida à força em caixotes!
Onde estão, que descaminho
Levaram (sabe-se lá!)
As estátuas de Mouzinho
E de Correia de Sá?
Quantas camas, quanto berço
Transformado num caixão?
E não há quem reze o terço,
Quem murmure uma oração?...
Desceu a noite. No escuro,
Perguntei, sem ver mais nada:
— E qual será o futuro
Dessa gente atraiçoada?...
Sem consultar um oráculo,
Eu contemplei, indignado,
O pavoroso espectáculo
Dum império encaixotado.

Poema de, António Lopes Ribeiro
In «Resistência», nº 128, 15.06.1976, pág. 6.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Da angústia da chegada ao sucesso da integração

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por
LUÍS MIGUEL VIANA 14 Agosto 2005
Vivem-se vidas inteiras sem conhecer o desespero. Mas esse sentimento rude, amargo, foi partilhado em 1975 por centenas de milhares de portugueses em Angola sobretudo, em Moçambique, na Guiné (até em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor), cidades inteiras de pessoas felizes, prósperas, esperançosas, com uma absurda confiança no futuro, viram-se de repente sem vida social, sem emprego, sem casa, com o dinheiro congelado nos bancos e um terrível sentimento de perigo em relação às suas vidas e às da sua família.
O desespero tem espinhos, alguns aguçados, e os seus bicos empurram as pessoas para o abismo. Em 30 de Junho, em Luanda, um grupo de 2500 residentes em Angola anunciou que, não conseguindo obter passagens aéreas ou marítimas para Lisboa, tencionava fazer a viagem até Portugal por via rodoviária, atravessando oito mil quilómetros de países africanos no sentido sul-norte ao longo de 90 dias. A caravana motorizada esteve organizada para ser constituída por 200 camiões e 500 automóveis particulares, sendo os suprimentos destinados a 15 camiões-frigoríficos com capacidade para transportar 30 toneladas de alimentos cada um. Alguns veículos foram transformados em oficinas móveis para fazer face à inclemência do trajecto e um dos organizadores, Guilherme dos Santos, fez contactos formais com a Cruz Vermelha Internacional e com a Comissão das Nações Unidas para os Refugiados para, na medida do possível, ajudarem essa travessia das selvas, savanas e desertos do continente africano.
Acabaram por não avançar para esse louco caminho para a morte. Mais a sul, porém, houve trainei- ras a largar de Porto Alexandre, cheias de gente, em direcção a Portugal, onde chegaram, com muita sorte, sem males de maior. Outros barcos de pesca artesanais cruzaram o Atlântico para despejarem no Brasil "retornados" que, afinal, não retornaram a Portugal. E quase todos os que puderam escaparam por terra em direcção à África do Sul, e a outros países limítrofes, em alguns casos viajando com máquinas de obras públicas que iam aplainando os acidentes do caminho.
"O que dominou o primeiro tempo da chegada foi uma grande confusão na cabeça das pessoas", recorda Rui Pena Pires, sociólogo das migrações e, também ele, retornado de África (ver texto ao lado). "Mais do que a revolta, as pessoas tentavam perceber como é que se poderiam instalar em Portugal. A fase da revolta veio depois". Na quantidade tremenda de gente que desaguou em Portugal aconteceu de tudo. Uma pequena minoria tinha acautelado o seu património e preparado o seu regresso a Portugal. Outra minoria - precisamente aquela que mais tinha a perder com a independência das colónias uma vez que perdera os laços com a metrópole - nunca acreditou no pior desfecho, não preparou coisa nenhuma e veio sem nada, absolutamente nada para além da roupa que trouxe no corpo. A larga maioria, essa, conseguiu trazer alguma coisa, pouca, mas suficiente para o espectáculo dos caixotes que inundou o cais e o aeroporto de Lisboa,
Jovens, portugueses. Com a descolonização, em 1975, abre-se em Portugal o ciclo da imigração, não só com o repatriamento de meio milhão de portugueses radicados nas colónias, mas também com o início de uma migração africana que, ao contrário do repatriamento, teve continuidade até aos dias de hoje. Do número de retornados recenseados pelo INE em 1981 61% são oriundos de Angola, 34% de Moçambique e apenas 5% das restantes colónias. Quase dois terços desses retornados nasceram em Portugal (63%), embora esta proporção se inverta nas camadas mais jovens - 75% dos menores de 20 anos eram naturais das colónias.  Cont...